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Archive for the ‘anarquismo’ Category

18 DE JANEIRO DE 1934

18 Janeiro, 2010 1 comentário

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Não é de mais ainda aconselhar a leitura da obra de Fátima Patriarca “Sindicatos contra Salazar. A Revolta do 18 de Janeiro de 1934” (Imprensa de CiênciasSociais, 2000) de que deixamos aqui parte da resenha que mereceu na Análise Social por Henrique N. Rodrigues: 

(…) 1.º Não tem qualquer sentido reconduzir o 18 de Janeiro à Marinha Grande. Fica mais do que demonstrado que a versão oficial (interesseira, por natureza) e a versão do Partido Comunista (também obviamente interesseira) — ao prestarem destaque quase único à Marinha Grande, aos vidreiros e à liderança comunista não logram comprovativo na realidade dos factos.
2.º Ganha sentido, sim, «recolocar» o 18 de Janeiro na sua dimensão histórica exacta: um movimento operário insurreccional, que visava a reconquista das liberdades sindicais, a par do derrube do regime do Estado Novo.
3.º Neste contexto, a Marinha Grande é um episódio «mediático» (assim o diríamos na linguagem corrente), porque envolve uma ocupação da vila pelos revoltosos — ainda que de duração muito curta —, o assalto aos correios e a rendição da GNR. Sobretudo esta é, de facto,paradigmática. Mas não há greve, não houve «soviete» nem içar de bandeira vermelha nos Paços do Concelho.
4.º O episódio da Marinha Grande é, por outro lado, reposto quanto à autoria do seu comando: se é verdade que a CIS e o PC têm peso significativo na direcção do Sindicato Nacional dos Vidreiros, não é menos verdade que se comprova a participação empenhada da CGT ede trabalhadores de outras correntes político-sindicais.
5.º Fica igualmente comprovado que o movimento operário insurreccional, de que expressões concretas vão ter lugar para além da Marinha Grande, se gera e desenvolve com oconcurso das duas principais correntes sindicais — a anarquista e a comunista — e com o envolvimento dos sindicalistas socialistas ( a Federação das Associações Operárias) e da corrente sindicalautónoma (COSA — Comité das Organizações Sindicais Autónomas).
6.º Fátima Patriarca descreve bem os entendimentos e desentendimentos surgidos entre estas várias correntes e clarifica melhor o seu peso respectivo. É indubitável que a CGT e a corrente sindical anarquista tiveram, neste processo, uma influência marcante. Isto não elimina o papel dos comunistas — que não pode ser esquecido ou menorizado —, mas repõe a verdade essencial: e essa é a do contributo das várias tendências sindicais (anarquista, comunista, socialista e a dos autónomos), segundo os factos que conseguiu demonstrar.Não me parece que seja muito importante, hoje, «contar espingardas», ou seja, procurar apurar se os anarquistas foram mais decisivos do que os comunistas, ou se os socialistas ou os autónomos não tiveram significado relevante. Houve uma convergência de esforços, emergiu uma implicação de todos — mesmo que não tenha ocorrido uma unidade estratégica, organizativa, táctica, como parece evidente pela comprovação dos desencontros, pelas falhas de articulação, pelas recriminações que, «antes e depois», choveram de uma banda e de outra, em recíprocas acusações.
7.º Neste contexto, importaria retirar a conclusão de que o «18 de Janeiro» merece ser comemorado, doravante, não apenas na Marinha Grande, como tem sido tradicional, mas também em Silves, em Sines, em Almada, zonas onde a «história que se fez» deixou na tumba as ocorrências — essas, sim, muito significativas — do que ali se passou; mas onde a «históriaque hoje rompe novos véus» já permite, sem margem para dúvidas, reconhecer que o «18 de Janeiro» é ali que conquista contornos historicamente mais iluminantes. Em suma, Silves, Sines, Almada, precisam de ser «transladadas» da campa rasa em que as colocaram para o «panteão» do verdadeiro «18 de Janeiro».

Texto retirado DAQUI

Ferroadas

 

A HISTÓRIA DO MOVIMENTO LIBERTÁRIO EM PORTUGAL (PARTE I)

16 Novembro, 2009 4 comentários

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O lançamento do movimento libertário em Portugal é no ano de 1886, a partir da vinda do geógrafo Elisée Reclus e do seu encontro com José Antônio Cardoso.

Em 1886, formou-se um comité anarquista que editou um órgão mensal com o seu nome: “A Centelha”.

Com excepção do sindicalismo de acção directa, o anarquismo foi a componente do movimento social que exerceu mais influência na sociedade portuguesa entre 1886 e 1936.

A partir de 1886, houve um grande crescimento do número de grupos anarquistas. Em cada ano há, em média, cerca de 10 novos grupos. A corrente predominante é a do comunismo-anarquismo.

No final da monarquia, de 1908 a 1910 os republicanos aliaram-se aos anarquistas para implantarem a 1ª República, em 5 de Outubro de 1910. Foram principalmente operários que lutaram e morreram nas revoltas, enquanto os dirigentes republicanos se protegiam nos seus palacetes, esperando o resultado do golpe, para depois aparecerem como heróis da luta contra a monarquia.

Mas, logo em 1911 e 1912, o governo republicano reprime o movimento operário, e muitos operários que apoiavam a república aderiram ao anarquismo. O ritmo de constituição de grupos anarquistas acelera-se, passando de 11 em 1910, são criados mais 61 em 1911, 50 em 1912, 44 em 1913, 57 em 1914, 35 em 1915. Uns trinta novos periódicos vêm tornar mais considerável a imprensa especificamente anarquista entre 1911 e 1916. O facto mais significativo, todavia, reside talvez na criação, pelos militantes, duma Federação Anarquista do Sul (1911), duma outra no Norte (1912) e duma União Anarquista do Algarve (1912), motivados pela preocupação e eficácia. A ascensão espectacular do socialismo libertário parece tanto mais irresistível na medida em que os seus partidários tomam conta do movimento sindical no Congresso de Tomar, em 1914.

Em 1923 é criada a União Anarquista Portuguesa (UAP).

Os anos 20 foram anos de grandes movimentos sociais em que os anarquistas tiveram um papel importante.

Em 1926, realizou-se em Marselha, o Congresso da Federação de Grupos Anarquistas de Língua espanhola em França, de 13 a 16 de Maio. Este congresso havia acordado constituir a Federação Anarquista Ibérica (FAI) bem como a sede desse organismo, dadas as condições anormais de Espanha, fosse fixada em Lisboa, incumbindo a UAP desse trabalho, a qual oportunamente promoveria «um Congresso Ibérico para dar carácter definitivo à dita Federação».

O congresso da UAP, a tal respeito deliberou: «Que seja incumbido o Comité Nacional da UAP de promover uma reunião de delegados do Comité de Relações da UA Espanhola, onde sejam tratados os principais assuntos do movimento internacional e em especial a constituição da FAI».

Entretanto, a União Anarquista Espanhola promove a Conferência Anarquista de Valência, em Junho de 1927, na qual a UAP se fez representar por um delegado directo. Esta conferência mantém a decisão de Marselha quanto ao Comité da FAI, cuja sede deveria fixar-se em Lisboa, visto as condições anormais continuarem em Espanha.

A questão é que essa anormalidade na Espanha, reproduziu-se em Portugal, com continuadas repressões, vários elementos activos foram deportados para África, ficando os restantes sob uma perseguição feroz e o Comité de Relações nunca pôde ser organizado em Lisboa, criando-se mais tarde em Sevilha.

Poucos dias depois do Congresso de Marselha, dá-se o golpe militar de 28 de Maio de 1926, que esteve na origem de uma ditadura militar (1926-1933) e alguns anos mais tarde, em 1933, instaurou-se o Estado Novo, ou ditadura de Salazar, que durou até a 25 de Abril de 1974.

Em 1936, a CGT ainda se faz representar no congresso da CNT, em Saragoça.

Em 1938, o movimento anarquista é já precário. Um grupo de militantes, entre os quais Emídio Santana, fez um atentado falhado contra Salazar.

A partir dessa altura, deixa praticamente de existir um verdadeiro movimento, devido à repressão e ao desmantelamento das organizações.

Ferroadas

POR UMA SOCIEDADE LIBERTÁRIA

19 Outubro, 2009 2 comentários

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Parte II

Aqueles que estão familiarizados com as tradições radicais reconhecerão um foco anarco-comunista neste esboço de comunidade, um foco anarco-sindicalista no controle dos trabalhadores, e um foco anarco-feminista pela abolição da distinção entre esferas públicas e privadas da vida social. Acredito que sem a presença de cada um desses elementos os outros não poderão ser alcançados. Se apenas os trabalhadores controlassem tudo sozinhos sem deixar nenhum espaço de tomada de decisão à comunidade como um todo estaríamos a deturpar toda a razão revolucionária. Impedir que a comunidade participe também no controle dos meios de produção é algo sem sentido, vazio. O fracasso na democratização e na socialização das Casas, o fracasso em incluí-las (e sua consequentemente reprodução) como parte explícita e integrante dos arranjos sociais, deixaria intacta a divisão por género, ao mesmo tempo em que perpetuaria a dicotomia público/privado.

 Nas recentes décadas surgiram novas cidades, praticamente do nada, principalmente pelo “fomento” de empreendimentos de intercambio. Também, muitas casas utópicas completamente novas foram estabelecidas ao longo do século XIX nos Estados Unidos, e talvez noutros lugares. Seguramente será possível, tendo os recursos, construir novas casas a partir do nada no futuro, pelo menos numa escala limitada. Entretanto, esta será certamente mais uma excepção do que uma regra, especialmente no começo desta revolução. Na maioria das vezes, construir a partir do nada estará fora de questão durante os primeiros 50-75 anos.

 Portanto, a tarefa actual que enfrentamos é transformar estruturas existentes (edifícios, fábricas) e relações sociais naquilo que desejamos. Precisamos tentar imaginar como o nosso bairro modelo ficaria depois de ter sido convertido a partir de um bairro urbano típico (em vez de construí-lo do nada).

Vejamos primeiro se podemos converter a fábrica existente em algo mais útil ao viver democrático, cooperativo, sem esquecer que esta é a parte mais fácil; difícil mesmo é transformar as relações sociais (por exemplo, propriedade, família, trabalho, e as relações que exercem entre si). Lidarei com isto mais abaixo discutindo como chegar lá.

 Fábricas e lojas podem ser facilmente adaptadas, caso não possam ser usadas como estão (depois de ocupadas e serem auto-gestionárias). Algumas áreas terão que ser dedicadas às reuniões dos Círculos Operários e assembleias de projectos.

 Mais difícil será transformar uma rua cheia de residências individuais numa casa. Provavelmente algumas improvisações podem ser feitas: constroem-se passagens e túneis entre os edifícios; certos quartos para seminários, cuidados médicos, bloquear certas ruas para ordenar de forma diferente, ampliação de uma ou duas cozinhas numa unidade comunal; rearranjo de quartos, etc..

Também será difícil de achar um espaço de reunião para a Assembleia de Casas. Há opções porém. Uma igreja, um ginásio ou poli-desportivo seria uma forma de se encontrar a solução. Mas também, armazéns, supermercados e lojas. A maioria destes espaços não pode segurar 2000 pessoas porém. Pode ser necessário começar com Assembleias de Casas menores – digamos, cinco Casas de 200 pessoas cada – formando uma Assembleia de Casas de 1000 pessoas, em vez de dez Casas formando uma Assembleia de Casas de 2000 pessoas.

Mais tarde, quando o fluxo de riqueza do bairro para a classe dominante for interrompido, quando a riqueza da classe dominante for re-apropriada pelo povo, os bairros irão querer, indubitavelmente e terão recursos para fazer isso, construir espaços mais apropriados para a Assembleia de Casas, especialmente projectados para isso, como também novos complexos comunitários. Mas no princípio teremos que sobreviver com o que já existe. Todas as riquezas produzidas por séculos a fio estão embutidas no desenho arquitectónico actual, um desenho que reflecte os valores, prioridades e relações sociais capitalistas. Levará muito tempo até que possamos demolir e reconstruir todo esse mundo físico, de forma a expressar as necessidades de pessoas livres. Para tal haja união.

Uma vez reconstruído, a nova civilização será caracterizada pelos seus espaços reservados à realização de assembleias. Da mesma maneira que mundos anteriores foram caracterizados pelas pirâmides do Egipto antigo, pelos templos e teatros da Grécia antiga, pelos castelos e catedrais da Europa medieval e pelos bancos e arranha-céus do capitalismo moderno, assim, o novo mundo social de pessoas cooperativamente autónomas será conhecido pelos seus espaços de reunião. Tais espaços em sua maioria terão distintas características arquitectónicas. Indubitavelmente serão de todas as formas e tamanhos. Além das grandes câmaras de assembleia gerais para os bairros (Assembleias de Casas), serão necessários alguns pequenos espaços que se adequam ao desenvolvimento dos projectos necessários a cada Casa e aos encontros dos Círculo Operário, como também espaços maiores para projectos ampliados e assembleias da Casas ampliadas. Após discussão e aprovação, algumas pessoas projectarão, construirão e equiparão bonitos  e excelentes espaços, onde de uma forma solidária todos se sentirão Homens Livres.

…continua

#Ferroadas

POR UMA SOCIEDADE LIBERTÁRIA

12 Outubro, 2009 4 comentários

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Vamo-nos concentrar num mundo alternativo. Suponhamos que seja possível construir um mundo social totalmente novo a partir do nada, ou seja, se fôssemos construir os bairros do nosso jeito. Com seriam?

      Eu imaginei um bairro assim:

Casas: Casas (no contexto dessa proposta) são unidades de aproximadamente 200 pessoas coabitando em um complexo de edifícios disponibilizando uma variedade de infrastruturas para indivíduos isolados, duas pessoas, famílias, e grandes famílias. O complexo teria instalações para reuniões, espaços comunais (como também espaços privativos) cozinha, lavandaria, educação primária e pré-primária, oficinas, ginásios, ambulatório de cuidados médicos básicos, maternidade, pronto-socorro e algumas instalações recreativas. As Casas são administradas democrática e cooperativamente por uma Assembleia directa de membros.

Projectos: Os projectos incluiriam todas as actividades cooperativas (mais de uma pessoa): agricultura, fabrica, ensino superior, pesquisa, medicina avançada, comunicações, transporte, artes, jogos desportivos, e assim sucessivamente, juntamente com outras actividades cooperativas dentro da própria Casa (cozinha, ensino, cuidados com crianças, serviços médicos, manutenção, etc.). Os edifícios seriam projectados e construídos para estas várias actividades. Interiormente, tais projectos seriam administrados democrática e cooperativamente por uma assembleia directa de sócios e ou membros. Alguns projectos, talvez a maioria, seriam controlados, no bom sentido, directamente pelo bairro, pela Assembleia do Bairro. Outros projectos seriam controlados por acordos entre várias ou muitas Assembleias dos Bairros.

Círculo Operário: Círculos Operários seriam unidades de aproximadamente 30-50 pessoas. Cada pessoa no bairro pertencerá a apenas um agrupamento de afinidade, desenhado o seu projecto piloto. Eventualmente tais agrupamentos por afinidade serão compostos por pessoas da mesma Casa mas a maioria delas estará envolvida com projectos fora da Casa, ou até mesmo fora do bairro. Todos os projectos (actividades cooperativas) serão tocados por tais agrupamentos. Estes agrupamentos se reunirão dentro do projecto para discutir assuntos, os quais, se necessário, serão levados às assembleias gerais. Os assuntos já discutidos no interior de cada projecto serão votados dentro das reuniões. As reuniões dos Círculos Operários são necessárias por causa das deliberações e genuínas discussões praticadas frente-a-frente em grupos com mais de 50 pessoas.

      Se surgirem pessoas de uma mesma Casa mas que actuam em projectos diferentes e queiram passar a trabalhar conjuntamente de forma autónoma, poderão recorrer à Assembleia da Casa enquanto entidade distinta, diferente da Assembleia do projecto (local de trabalho), embora a Casa possua Círculos Operários actuando em projectos como cozinha, educação, cuidado de crianças, e cuidados médicos.

Assembleia da Casa: A Assembleia da Casa é o núcleo da criação social. É uma assembleia de um bairro inteiro, em torno de 2000 pessoas, reunido num espaço próprio e suficientemente grande para facilitar a discussão democrática directa e a tomada de decisão. Claro que na prática o tamanho das Assembleias de Casas variará consideravelmente. Seu limite superior é entretanto determinado pelo número das pessoas que se podem encontrar num espaço suficientemente grande para que possam participar democraticamente das discussões, frente-a-frente e para desenvolver os processos de tomada de decisão.

Uma Associação de Assembleias de Casas: As Assembleias de Casas poderão  unir-se  umas às outras, por meio de pacto ou acordo combinado, formando uma associação maior. Haverá um acordo global que definirá a associação em geral, como também muitos acordos específicos para projectos em particular.

      Na Assembleia de Casas é o bairro que se governa. O bairro faz suas próprias regras, aloca seus próprios recursos e energias e negocia seus próprios tratados com outros bairros. O bairro controlará o espaço físico onde se situa, assim como todos os projectos e Casas dentro dele.

  Assim não teria mais lugar a:

hierarquia, representação, escravo assalariado, motivo de lucro, classes, propriedade privada dos meios de produção, impostos, estado, clero, alienação, exploração, elite de controle profissional de qualquer actividade, ou divisões formais por raça, género, idade, etnia, pontos de vista, convicções, ou inteligência. Este bairro, assim organizado, será a unidade básica da nova ordem social.

…continua

# Ferroadas

O EXEMPLO DE AIVADOS (II)

25 Agosto, 2009 3 comentários

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No seguimento do post dedicado a Aivados elaborado pela camarada Mariazinha em 26/1/2009 e colocado aqui no Libertário, decidi acrescentar algo mais à história daquela terra e daquelas gentes, contada por um habitante no passado dia 20 de Agosto durante uma visita por mim feita.

Nada existe de concreto, a história de Aivados perde-se no tempo e segundo tem passado de pais para filhos, a mesma remonta a 1645 reinava em Portugal D.João IV.

Uma tal Maria Lemos proprietária de vastas terras alentejanas teria doado ao Povo de Aivados cerca de 400 hectares de terra. Durante alguns anos o Povo não se entendeu, para além de alguns nobres e o clero quererem usurpar as terras. Até que em 1655 o Rei D.João IV, decretou que aquelas terras seriam do Povo de Aivados e só ele poderia administra-lo.

Dizer também que actualmente, para além do que vem mencionado no post aqui publicado pela camarada Mariazinha, hoje Aivados tem características únicas e absolutamente libertárias, como exemplo (será que foi aqui que o 1º ministro se inspirou?) cada nascido em Aivados recebe €50 da comunidade, a família de cada falecido recebe também €50. Em Dezembro cada cabeça de casal recebe €25 e cada criança €15. Toda a produção de gado ou produtos agrícolas são do Povo, cujos lucros da venda dos mesmos revertem para a comunidade, assim como o aluguer de duas pedreiras ou terrenos de cultivo.  

Vale a pena ir até Aivados, conhecer in-loco a vida daquele Povo, sua história e como é bom viver numa comunidade assim, sem chefes, sem mandantes, sem caciques, sem caudilhos, enfim, viver em Liberdade plena, onde o culto da personalidade não existe.

Tudo é de todos, nada é de ninguém.

# Ferroadas

 

PARA A SOCIEDADE LIBERTÁRIA (I)

17 Agosto, 2009 6 comentários

OS ANARQUISTAS SÃO INDIVIDUALISTAS OU COLECTIVISTAS?

Para alguns “profetas” das verdades absolutas os anarquistas são individualistas para outros colectivistas, afinal ambas estão erradas. Não é de surpreender, uma vez que os anarquistas não são nem uma nem outra. Gostem ou não, os individualistas não anarquistas e os colectivistas não anarquistas são as duas  faces da mesma moeda capitalista. Isto demonstra-se considerando o capitalismo moderno, onde as tendências “individualista” e “colectivista” continuamente se influem mutuamente, muitas vezes com o pêndulo da estrutura política e económica oscilando de um extremo a outro. O colectivismo e o individualismo capitalista são aspectos parciais da existência humana, e da mesma forma que todas as manifestações de desequilíbrio, estão profundamente degeneradas.

Para os anarquistas, a ideia de que os indivíduos deveriam sacrificar-se “pelo grupo” ou “pelo bem comum” não tem sentido. Os grupos são formados por indivíduos e se as pessoas pensam somente no bem estar do grupo, esse grupo será uma casca sem vida. Somente a dinâmica do intercambio humano dentro de um grupo é o que lhe dá vida. Os “grupos” não podem pensar, apenas porque os indivíduos pensam. Ironicamente, este facto leva os “colectivistas” autoritários à classe de “individualismo” mais peculiar, o “culto da personalidade” e a adoração do líder. É de se esperar, uma vez que tal colectivismo amontoa os indivíduos em grupos abstractos, lhes nega sua individualidade e acaba precisando que alguém com suficiente individualidade tome decisões; os problemas se “resolvem” com as ideias do líder. O Stalinismo e o Nazismo são excelentes exemplos deste fenómeno.

Estas considerações não significam que o “individualismo” encontre apoio entre os anarquistas. Como assinalou Emma Goldman, o individualismo exacerbado  não é mais do que uma tentativa dissimulada de reprimir e de derrotar o individuo e a sua individualidade, invariavelmente resulta no incremento das distinções de classe, supondo todo o individualismo para os amos, enquanto que o povo é arregimentado em uma casta de escravos a serviço de um punhado de super homens egoístas”

Enquanto os grupos não pensarem, os indivíduos não poderão viver nem discutir por si sós. Todavia, devido a sua perspectiva desequilibrada, os “individualistas” acabam apoiando algumas das instituições mais “colectivistas” que existem, as empresas capitalistas, e alem disso, sempre defendem a necessidade de um estado apesar de suas frequentes acusações contra ele. Estas contradições nascem da dependência do individualismo capitalista de contratos individuais em uma sociedade desigual, ou seja, um individualismo abstracto.

Em contraste, os anarquistas acentuam o individualismo social. O anarquismo “insiste que o centro de gravidade da sociedade é o individuo, que tem que pensar por sim mesmo, actuar livremente, e viver plenamente. Se alguém quer desenvolver-se livre e plenamente, tem que se ver livre da interferência e da opressão dos outros. Isto nada tem a ver com individualismo exacerbado. Tal individualismo depredador é na realidade débil, não robusto. Ao menor perigo à sua segurança, corre em direcção ao estado para buscar refúgio e ajuda pela sua protecção, seu individualismo exacerbado é simplesmente uma das muitas atitudes típicas da classe dominante com vistas à extorsão política e a usurpação dos trabalhadores”.

O anarquismo rejeita o individualismo abstracto do capitalismo, com suas ideias “absolutas” de liberdade do individuo violentado por outros. Esta teoria ignora o contexto social que é o ambiente onde a liberdade existe e cresce.

Uma sociedade baseada em “contratos individuais” geralmente resulta da desigualdade de poder entre os indivíduos contratantes e gera a necessidade de uma autoridade baseada em leis acima deles e na coerção organizada para forçar o cumprimento dos contratos entre eles. Vê-se claramente esta consequência no capitalismo e, mais notável ainda, na teoria do “contrato social” da qual se desenvolveu o estado. Nesta teoria se assume que os indivíduos são “livres” quando estão isolados uns dos outros, estando, como dizem, originalmente em um “estado natural”. Uma vez agrupados em sociedade, se supõe que criaram um “contrato” e um estado para administrá-lo. Contudo, além de ser uma fantasia sem nenhuma base na realidade (os seres humanos sempre foram animais sociais) esta “teoria” não é mais que uma justificação dos extensos poderes do estado sobre a sociedade; o que por sua vez justifica o sistema capitalista, que requer um estado forte. Também copia os resultados das relações económicas capitalistas sobre as que se constrói esta teoria. Dentro do capitalismo, os indivíduos se contratam “livremente”, mas na prática o patrão manda sobre o trabalhador enquanto dura o contrato.

Na prática, o individualismo e o colectivismo levam à negação da liberdade individual, à autonomia e à dinâmica de grupos. Ademais, um supõe o outro, o colectivismo leva-nos a uma forma particular de individualismo e vice-versa.

O colectivismo, com sua supressão implícita do individuo, afinal de contas acaba por empobrecer a comunidade, uma vez que os grupos apenas tem vida através dos indivíduos que os formam. O individualismo, com sua supressão explícita da comunidade (e as pessoas com que alguém vive) no final de contas empobrece o individuo pois os indivíduos não existem aparte da sociedade, passa a existir dentro dela. Alem de tudo o individualismo acaba por restringir a uns “poucos eleitos” as intuições e habilidades dos indivíduos que formam o resto da sociedade, agindo desta maneira constituem-se numa fonte de auto-negação. Este é o erro (e a contradição) maior do individualismo, a impossibilidade do individuo chegar a alcançar um pleno desenvolvimento em condições de opressão das massas pelas “aristocracias”. Seu desenvolvimento permaneceria desequilibrado.

# Ferroadas

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A TAP PARA O POVO

10 Agosto, 2009 3 comentários

A TAP adquiriu em Julho uma nova frota de automóveis novos (quarenta e dois no  total) topo de gama para os directores, enviando para a sucata outros tantos.

Uma empresa que “come” do estado (de todos nós) que se dá ao luxo de pagar em 2008 a um administrador 59 mil euros/mês (11.800 contos), que no mesmo ano deu um prejuízo de 280 milhões de euros, que diz não ter verba para aumentar os seus trabalhadores, esta gestão é incompetente, maliciosa e fraca. Gestores destes não são necessários.

 E o estado? Não tem nada a dizer?

 Para que serve um estado assim? Que desbarata o dinheiro do Povo em gente incompetente?

 Não, não precisamos deste estado, deste sistema, desta gente. Necessitamos sim, que sejam os trabalhadores organizados nas suas estruturas de base a gerir as empresas estratégicas do país, a TAP é uma delas.

 # Ferroadas

ATENTADO A SALAZAR

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Emídio Santana militou nas Juventudes Sindicalistas e foi membro do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos, filiado na antiga Confederação Geral do Trabalho (CGT) portuguesa.
No seguimento do golpe militar fascista de 28 de Maio de 1926, desenvolveu uma actividade de resistência contra a ditadura e actividade sindical clandestina.
Em 1936, representou a CGT portuguesa no congresso da Confederação Geral do Trabalho de Espanha.
Em 4 de Julho de 1937 foi um dos autores do atentado a Salazar quando este se deslocava à capela particular do seu amigo Josué Trocado, na Avenida Barbosa du Bocage, em Lisboa, para assistir à missa. Na sequência do atentado, Emídio Santana é procurado pela PIDE e foge para o Reino Unido, onde a polícia inglesa o prende e envia para Portugal onde é condenado a 16 anos de prisão.
A partir do fim da ditadura1974, Emídio Santana retoma a vida militante activa, nomeadamente como director do jornal A Batalha.
Em 1985, Emídio Santana escreveu Memórias de um militante anarcossindicalista, livro onde recorda momentos importantes da sua vida de militância política
Emídio Santana nasceu em a Lisboa, 4 de Julho de 1906, faleceu também em Lisboa, a 16 de Outubro de 1988 foi um dos mais importantes militantes portugueses do anarcossindicalismo. Foi autor de diversos artigos e ensaios sobre o anarcossindicalismo e o mutualismo.
 
# Ferroadas

AS LIBERTÁRIAS

A força bruta contra a força da razão

24 Março, 2009 2 comentários

Esta é a forma como o sistema reage a quem protesta em defesa daquilo que considera justo. Lançam os seus cães de guarda, pagos com o dinheiro dos nossos impostos. Nesta caso estudantes que, em Barcelona, contestavam o Processo de Bolonha e a destruição da Universidade Publica. É verdade que mostrar livros a cães de guarda é o mesmo que abanar uma capa vermelha a um touro. Investem na sua cegueira, ou touros, ou na sua ignorância os cães.
Como deveremos enfrentar esta gente que utiliza a violência e a brutalidade contra a razão? Violentamente como apregoam os que defendem a revolução violenta ou utilizando o protesto pacifico na linha de Gandhi ou Luther King? Honestamente não sei a resposta e, se a razão me diz que se consegue melhores resultados a longo prazo com a luta pacífica, a emoção e a raiva criada pela violência policial criam a vontade de lhes malhar em cima também. O que sei é que sem luta, pacífica ou violenta, nada se consegue mudar. Os vampiros não largarão o poder se nada fizermos.

Umas coisas sobre Deus…e uma pergunta

16 Janeiro, 2009 Deixe um comentário

Como diriam os Monty Phyton, “And now something completely different”; Uma pergunta

O Anarquismo é um fim a atingir ou um meio para o atingir?

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JOSÉ CORREIA PIRES, UM ANARQUISTA NO TARRAFAL

14 Janeiro, 2009 4 comentários

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“ O ANARQUISMO é uma doutrina que o TIRANO esmaga, mas que O JUSTO E O HERÓI praticam e a NATUREZA NOS ENSINA.”
Correia Pires

José Correia Pires (CP) nasceu em 17 de Abril de 1907, em S. Bartolomeu de Messines, concelho de Silves. Os pais, José Correia e Isabel Pires, eram trabalhadores pobres e analfabetos, como a maioria dos portugueses. No entanto, compreenderam a necessidade de o filho aprender a ler e escrever e colocaram-no numa escola particular onde aprendeu as primeiras letras e depois na escola oficial, onde fez a instrução primária até à então 4.º classe. Profissionalizou-se como carpinteiro, por volta de 1922, num período em que, já militando no movimento anarquista, em particular na Confederação Geral do Trabalho (CGT), foi activista do sindicato da construção civil de Messines. Após o golpe militar de 28 de Maio de 1926, que derrubou a I República portuguesa e a partir do qual vigorou um regime de Ditadura Militar, tentou criar em Messines uma organização, a Aliança Libertária, ao mesmo tempo que colaborava em alguns semanários regionais. Em Janeiro de 1931, ano em que haveria uma intensa agitação social e política contra a ditadura militar, CP teve o primeiro embate com a repressão quando, com outros camaradas, abriu uma escola na sede do Sindicato da Construção Civil de Messines, que acabaria por ser encerrada pelo administrador do Conselho, alferes Barroso, que a considerou subversiva. Em protesto, CP escreveu um texto no jornal local A Voz do Sul e, para não ser preso, dirigiu-se a Faro, onde o comandante da polícia, capitão Maia Mendes, o tirou de apuros e conseguiu mesmo a demissão do administrador Barroso. Esta situação foi reveladora de que havia ainda então, no seio da Ditadura Militar, contradições, em particular na província, onde «o sentido de repressão ainda não tinha atingido o cunho que viria a ter depois de 1933 ou mesmo como já teria em Lisboa e arredores», conforme afirmou o próprio CP nas suas memórias. No entanto, tudo se clarificaria na ditadura, quando no ano seguinte Salazar, ministro das Finanças desde 1928, chegou à presidência do Conselho. Não por acaso, foi no verão de 1932 que CP conheceu pela primeira vez a prisão, relacionada com a luta pelas 8 horas de trabalho na construção civil. Numas obras a decorrer numas estradas circunvizinhas de Messines, trabalhava-se cerca de 14 horas por dia e o sindicato onde militava CP incitou os trabalhadores a reivindicar o cumprimento da lei das 8 horas. O «incidente» fez cair sobre ele a ameaça de prisão, pelo que teve de se ausentar durante uns meses de Messines, embora acabasse por ser detido em Faro e enviado para a prisão do Aljube, em Lisboa. Levado a julgamento no Tribunal Militar Especial, acabaria porém por ser absolvido, já em 1933. Lembre-se que, no período da detenção de CP, começou a ser erguido o edifício do regime salazarista, Estado Novo, com a aprovação da nova Constituição e a criação de diversas instituições, entre as quais se contou a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE). Foi também então que Salazar lançou os primeiros diplomas da legislação corporativa, criando os Grémios patronais e os Sindicatos Nacionais e proibindo a partir de então os organismos de classe que neles não se transformassem. Ora, quando ainda se encontrava preso nos começos de 1933, já se punha, segundo CP, «a hipótese de um movimento revolucionário feito pela CGT e sua possível coincidência com outro dos políticos» contra a «fascização» dos sindicatos. Tratava-se da greve geral marcada para 18 de Janeiro de 1934, numa conjunção de esforços das três centrais sindicais existentes – anarquista, socialista e comunista – e de um projecto insurreccional, programado inicialmente pelos comunistas e anarquistas em conjunção com forças reviralhistas e republicanas. No entanto tudo falhou dado que, avisada, a PVDE conseguiu desmantelar o movimento. Após a sua libertação da primeira prisão, CP encontrava-se no Algarve a preparar o movimento de 18 de Janeiro de 1934, quando foi surpreendido, logo em 7 de Janeiro, «com um “achado explosivo” no sítio chamado serro grande que pôs em alvoroço toda a vila de Messines». No processo a que CP seria sujeito em 1936, ao ser preso pela segunda vez, consta que, no início de 1934, teria recebido em sua casa, em S. Bartolomeu de Messines, Virgílio Barroso, que havia ido buscar a Lisboa seis bombas de estilhaços para rebentarem em 18 de Janeiro de 1934. Procurado pela polícia, CP exilou-se em Espanha, onde chegou a ser preso e trabalhou numa pedreira, até que regressou clandestinamente a Portugal, em 1935, roído pelas saudades. Vivia clandestino em Lisboa com a mulher e cinco filhos, quando se envolveu novamente, com camaradas anarquistas e elementos republicanos, numa tentativa de intentona. No entanto, segundo contaria CP numa entrevista dada em 1976, infiltrou-se no grupo um elemento de ligação com os republicanos, que se propôs arranjar-lhes armas, mas verificou-se depois que se tratava de um informador da PVDE. CP voltou a ser preso, passando pelos cárceres do Governo Civil de Lisboa e pela prisão do Aljube, então repleto de outros presos políticos anarquistas e, sobretudo, comunistas, num período em que, com a eclosão da guerra civil em Espanha, o regime salazarista sofreu um processo de endurecimento repressivo. Lembre-se que em 1936 a PVDE prendeu 2748 pessoas por razões políticas e depois continuou a não ter mãos a medir pois, entre esse ano e 1939, houve 9.575 detidos nos seus cárceres; ou seja uma média de cerca de 2400 detenções anuais. Nesse período, como disse CP nas suas memórias, o ambiente entre todos os detidos era bom, pois pairava «a ideia de “frente única” ou “frente popular”, como vinha ocorrendo em França e em Espanha». Efectivamente os comunistas, anarquistas, republicanos e outros oposicionistas ao Estado Novo formaram então a Frente Popular Portuguesa (FPP), para responder ao processo de «fascização» que se fazia sentir em Portugal. Não por acaso, foi nesse ano de 1936 que foram formadas a milícia paramilitar Legião Portuguesa (LP) e as organizações de enquadramento das mulheres e dos jovens (a Obra das Mães pela Educação Nacional – OMEN -, bem como a Mocidade Portuguesa – MP – e a Mocidade Portuguesa Feminina – MPF, em 1937). Foi também então criado, para encarcerar os opositores políticos mais activos, em particular os envolvidos em acções armadas, o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, para o qual foram enviados CP – sem ser alvo de qualquer julgamento – e 41 outros presos políticos, em Junho de 1937. Nos oito anos durante os quais CP permaneceu no Tarrafal, erguido sob inspiração dos campos de concentração nazis alemães, foram sucessivamente directores seis militares: Manuel Martins dos Reis, também chamado «Manuel dos Arames», pela sua obsessão em vedar tudo e todos a arame farpado e em impor o isolamento absoluto aos prisioneiros, José Júlio da Silva, João da Silva, Olegário Antunes, Filipe de Barros e o capitão Pratas. Nesse campo «da morte lenta», os presos políticos eram sujeitos a trabalhos forçados e a tremendo castigos, contando-se entre estes a «frigideira» de cimento – um forno durante o dia e um «frigorífico» durante a noite – e a célebre «brigada brava», de trabalhos duríssimos, criada pelo chefe de guardas Henrique de Sá e Seixas, no período «mais duro» do campo, quando este era dirigido pelo capitão João da Silva. CP sofreu todos esses tormentos, incluindo duas estadias na «frigideira» e trabalhos forçados na «brigada brava», até regressar, «amnistiado» sem nunca ter sido julgado, a Lisboa, em 1945. Após umas semanas no forte de Caxias, acabou por ser solto em 12 de Março desse ano, fixando-se em Almada. Começou por trabalhar nos estaleiros navais da Rocha do Conde de Óbidos e depois voltou à sua profissão de marceneiro até se estabelecer durante um período com uma carpintaria em Almada. Manteve sempre uma actividade associativa e cooperativa, tendo sido fundador da Cooperativa de Panificação – SulCoop, enquanto delegado da Sociedade Cooperativa de Consumo Almadense, do qual foi dirigente. Entre 1956 e 1957, foi presidente da Assembleia-geral da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, da qual foi ainda, em 1958, delegado a Federação.  Em Fevereiro de 1974, José Correia Pires foi denunciado à DGS por ter participado numa sessão comemorativa – autorizada – do 31 de Janeiro de 1891, na Academia Almadense. Após 25 de Abril de 1974, publicou dois livros, Memórias de Um Prisioneiro do Tarrafal e A revolução Social e a sua Interpretação Anarquista, ao mesmo tempo que se manteve politicamente interveniente, escrevendo diversos artigos, no Jornal de Almada e no mensário, Voz Anarquista, em defesa do anarquismo e do cooperativismo. faleceu em 28 de Outubro de 1976.

Fontes e bibliografia Arquivo da PIDE/DGS, José Correia Pires, processos SPS 600, SPS 2410 e 878/74«A revolução Social e a sua Interpretação Anarquista, um novo livro de Correia Pires», Jornal de Almada, 12/11/75, p. 2.

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OS ANARQUISMOS

proudhon

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Difusão do poder, maioria e consenso

12 Janeiro, 2009 Deixe um comentário

O desejo pela democratização da sociedade, quer na forma de regime de governo, quer na diversidade das relações dentro do corpo social, parte da genuína esperança de que a difusão do poder que antes estava reservado ao soberano, actue na salvaguarda dos interesses da maioria em vez de interesses particulares e, claro, com isso melhore as condições de vida de uma forma geral. O caminho que seguiu este desejo pela difusão do poder trouxe-nos até às modernas democracias de hoje, e ao mesmo tempo ao impasse que é a hegemonia do discurso que esta é a forma de organização política final, porque, nos seus próprios termos, a mais legítima, justa e eficaz.

Será mesmo? A causa que o pensamento libertário vem defendendo há muitas décadas afirma que não. Partindo da ideia radical de que toda a forma de dominação é ilegítima, e de que abdicar do poder político, mesmo que de forma circunscrita, resulta invariavelmente numa relação de dominação, o pensamento libertário levou a ideia original de difusão do poder até ao fim, ou seja, até ao indivíduo, retirando dela todas as ilações que ela contém. O indivíduo passa então a ser o único e legítimo decisor sobre o que a si lhe diz respeito, não o soberano, nem o representante eleito. Onde a democracia coloca a vontade da maioria como decisiva, passa a estar a vontade do indivíduo no seu lugar, onde a democracia oferece a possibilidade de escolher os representantes, passa a estar um processo mais espontâneo ou mais organizado de discussão e decisão por consenso. Deixa de se tratar de tomar decisões sobre quais os programas a cumprir por grupos organizados e profissionalizantes, os partidos políticos – o que é mais uma decisão sobre estratégias gerais de cunho fortemente ideológico do que propriamente o gerir da própria vida – e torna-se no elaborar dos próprios programas de acção, em colaboração com outros indivíduos com o mesmo grau de autonomia.

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